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O covid e a gestão da pandemia têm deixado boas lições sobre as lideranças. Tem havido muitos casos de sensatez, rigor e competência na gestão política local, defendendo as populações e trabalhando numa relação de diálogo e de confiança. Confiança na pessoa e na palavra, coisa fundamental na política.

Este tempo prova que as lideranças são decisivas, fazem a diferença, e que os experimentalismos deixam muitas vezes fragilizadas as comunidades e as pessoas que apostaram no ridículo como forma de contestação.

O que se tem passado na gestão do Covid na região Norte mostra muita capacidade de resposta e de adaptação a novos e desafiantes problemas.

Ao contrário, o que se passa no Brasil ou nos EUA neste processo Covid mostra a necessidade de repensar os métodos e os discursos da democracia, capaz de gerar o melhor, mas também capaz de gerar os gérmenes da sua própria fragilização. 

Mas mostra também a necessidade de cautelas adicionais na decisão cívica, política e eleitoral, cujas consequências são tantas vezes devastadoras para as pessoas. Os cidadãos devem saber que o voto de protesto ou o alheamento cívico são potenciais instrumentos de fragilização democrática, fazendo emergir populistas perigosos e difíceis de controlar depois de acederem ao poder, que repercutem sobre as próprias pessoas as suas iniquidades. 

Sabe-se que o voto de protesto gera amiúde uma grande vontade de rutura e até de ridicularização do sistema. Mas importa que se perceba que o sistema não é tão resiliente como pensamos e que a melhor forma de mudança passa pela participação ativa, pelo envolvimento cívico e não pela ridicularização do sistema com lideranças que marcam irreversivelmente pela negativa a sua passagem.

Tem sido neste modelo de experimentalismo de lideranças com que vou olhando para as ações de Bolsonaro ou de Trump, duas faces da mesma moeda. As pessoas alinharam no basismo da construção populista de uma imagem negativa dos líderes. Alinharam num ímpeto de folclore de mau-gosto, no discurso do ódio, do medo e da raiva. No caso brasileiro, ainda não se percebeu o golpe contra Dilma Rousseff; no caso americano, só uma análise muito multidimensional e geoestratégica pode explicar que, após um líder decente e carismático como Obama, possa ter surgido um destes parêntesis da História que deixará um rasto de destruição.

Tem sido esta a marca do populismo. Apostar na estigmatização do sistema, imputando-lhe aparentes vícios malditos e prometendo o milagre institucional. Mesmo que no final apenas fique o medo e a destruição. 

Em muitos experimentalismos, podemos voltar às origens. Na governação e nas lideranças, a coisa tende a ser mais complicada. E as pessoas têm as suas responsabilidades. Até podem corrigir o tiro nas próximas eleições. Mas o mal já está feito e perdurará nas consciências e na História dos países por muito tempo. Os brasileiros e os americanos que o digam.

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Eduardo Rodrigues

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