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Abre hoje o renovado e ampliado Parque Municipal da Lavandeira, em Vila Nova de Gaia. É o dia em que abre também o novo Parque Ambiental de São Paio, na confluência do estuário do rio Douro, ao mesmo tempo que culmina a obra do icónico Jardim Soares dos Reis, cuja abertura ocorrerá no próximo dia 10 de abril.

O Parque da Lavandeira abre com mais 40 mil metros quadrados de área de ampliação, adquirida pela Câmara, incluindo uma extraordinária estufa neogótica de ferro fundido, que será integralmente reabilitada, um lago refrescante e uma enorme zona arbórea secular, com árvores que só uma família de quatro pessoas consegue abraçar.

É neste enquadramento que sentimos o espírito das espécies, a relação com a força da natureza, as nossas memórias pessoais e coletivas, que vimos nos cenários da inolvidável Pandora, uma das luas de Polifemo, onde Neytiri encontra a sua força.

Bem sabemos que há quem se contente com a árvore no canteiro, mas a natureza é muito mais do que isso. A natureza é o total multidimensional, que inclui a espécie humana, numa estreita e constante interdependência. Ela interpela-nos para o equilíbrio, para um modelo “eco-lógico”, tanto mais lógico quanto equilibrado e sustentável.

É no meio destes espaços que sentimos a suprema gravidade. Não a gravidade estudada por Newton em plena epidemia do século XVII, a grande praga londrina, nem a gravidade definida pela Teoria da Relatividade de Einstein, que moldou a física moderna. É de uma atração diferente que falamos, não a atração gravitacional, mas a atração espiritual das nossas raízes, do local onde nascemos e da cidade que partilhamos.

Trata-se da sensação ótima de espaço vivido, de identidades construídas. Nós somos isso mesmo: um conjunto de memórias, sentimentos e partilhas, alimentado pelas nossas raízes e pelas identidades que construímos coletivamente. Não somos uma folha de Excel ou uma importação; não somos um jogo de poder ou uma estratégia maquiavélica. Somos o que fomos, somos donde somos, somos o que foram os nossos antepassados e as nossas memórias, somos as nossas raízes conjuntas, a sensação da ligação às origens, a relação genuína construída pela força dos afetos e pelas nossas memórias genuínas.

A natureza não é um fenómeno contemplativo ou uma foto bucólica. A natureza é um ecossistema, ou seja, um sistema integrado de relações mútuas, de convivência e respeito mútuo, assumido pelas múltiplas e duradouras pertenças construídas na nossa história coletiva. E é nas nossas raízes que nos encontramos, que identificamos as nossas origens e a forma dedicada como nos construímos uns com os outros.

Post-scriptum – À hora que este texto é concluído, tomo conhecimento da morte do colega e amigo Almeida Henriques, autarca de Viseu. Um homem de raízes, com a elegância dos ramos ao vento. Morre na sua terra, nas suas raízes, deixando as marcas de um tempo. Paz à sua alma.

*Presidente da CM Gaia/ /Área Metropolitana do Porto

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Eduardo Rodrigues

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