A semana terminou com uma excelente notícia vinda do Conselho Europeu. Depois de uma intensa negociação, os líderes europeus entenderam-se num pacote de financiamento ao combate à crise atual.
A Europa precisa de dar sinais de vitalidade e de uma estratégica poderosa de desenvolvimento, desde logo num quadro de populismos e de extremismos que parecem ganhar terreno face às indefinições e angústias que as pessoas vão sentindo.
No fundo, concretiza-se uma linearidade sócio-histórica: as crises também têm efeitos de regeneração e de inovação. Foi assim com o Plano Marshall, foi assim com a ONU ou a CECA. E por não ter sido assim, o pós-Primeira Guerra não se livrou de ver germinar as sementes da Segunda Guerra.
Para Portugal, fica uma vitória e um desafio. A vitória é de António Costa, firme na negociação e líder na defesa da Europa. O desafio é nacional e passa por conseguirmos organizar as ideias e os modelos para usarmos devidamente os enormes recursos disponíveis.
Precisamos de ser ágeis. A enorme burocracia e o modelo tecnocrático vigente necessitam de uma intervenção política para reforçar a transparência e o rigor, mas aliviando a burocracia desnecessária.
Precisamos de estratégias claras. O país não precisa de mais aventuras ou de repetir erros passados. Necessita, isso sim, de investimento sustentável, de inovação nos modelos de gestão, de infraestruturas inteligentes e de impactos sociais. E necessita de reforçar o papel das instituições da economia social, atualmente a definhar, fundamentais para as respostas sociais.
E, sobretudo, precisamos de cooperação. O país já perdeu muito tempo a entreter-se em guerras estéreis, partidárias, regionais, pessoais ou outras. Basta ver o subtil pingue-pongue mediático a propósito das escolhas para a eleição da CCDR-N, para se perceber o conceito de (des)norte.
A região Norte, discutida esta semana com a pertinência que o JN lhe conferiu, necessita de mais cooperação e de mais esforço coletivo. Menos guerra e mais cooperação, envolvendo as autarquias, as empresas, as universidades, as igrejas e as instituições sociais, etc. Importa assumirmos o desiderato histórico de unirmos esforços, de reconhecermos o momento único que vivemos e de estarmos à altura do momento. Ninguém nos perdoará se não soubermos agir com determinação, inteligência e espírito coletivo. Ninguém nos respeitará se não percebermos que o debate também é regional, que as soluções são urgentes e que os “eus” só servirão para divisões estéreis e o “nós” é a única forma de darmos músculo institucional à região.
Se assim não for, a crise económica poderá passar, mas será irremediável a crise de legitimidade regional e as suas consequências nas perceções dos cidadãos. E muitos dirão: mal por mal, que mande o poder central. Não podemos, também por isso, falhar neste momento histórico.
Presidente da CM Gaia / Área Metropolitana do Porto