O plano de retoma do país não pode excluir a inovação, seja a inovação tecnológica, a inovação social e também a inovação organizacional. De facto, assume-se erradamente a inovação exclusivamente como fator tecnológico.
Mas, a verdade é que outros desafios se levantam: responder aos novos desafios sociais, cada vez mais prementes; responder aos imperiosos novos modelos de organização social, para não dizer mesmo aos novos modos de vida.
O país tem-se envolvido no debate da retoma pós-covid. Presume esta reflexão que o assunto deve ser posto a pensar no período posterior à covid? Quanto tempo faltará? Alguém ousa adiantar um momento concreto para que tal seja viável? Não será que o modelo deve ser pensado em convivência com a covid, dada a sua duração imprevisível? Ou seja, mais do que discutir o período pós-covid, não seria importante diagnosticar o período pandémico e as formas de conviver com ele?
Nessa linha, importa aprender com os êxitos do passado, mas também com os seus sucessos. Muitos são os elementos de reflexão. Por razões de espaço, ocupo-me de três deles.
Em primeiro lugar, o aspeto psicossocial. Parece ser evidente uma alteração de comportamentos e de representações sociais. A angústia com o futuro próximo, a dúvida sobre momentos determinantes (o arranque do ano letivo, por exemplo), a incerteza quanto aos desafios emergentes, a ausência dos tradicionais momentos de forte sociabilidade, entre outros. O que fazer e como contrariar estas tendências?
Em segundo lugar, os oportunismos de circunstância. Que melhor forma de assumir agora as demagógicas críticas ao período do desconfinamento do que ter tido idênticas táticas demagógicas de cínico elogio ao período do confinamento? A política parece que já não se faz apenas dizendo a verdade, mas também o discurso conjunturalmente conveniente…
Em terceiro lugar, a estratégia económica. O contributo do plano de António Costa e Silva vale pela sistematização e reforço de grandes ideias. Alguns esperavam que ele anunciasse a vida em Marte; eis que ele se limitou a sistematizar o que tantas vezes se diz, mas que raramente se fez…
Nesse domínio, talvez importe anunciar um plano estratégico de modelação da produção industrial atual. Basta ver a velocidade com que nos atiramos à produção de ventiladores em centros de inovação da indústria automóvel ou à produção de máscaras na indústria têxtil, para percebermos que importa identificar os eixos da nossa dependência externa (pesando nas importações) e apoiar estratégias de diversificação que ajudem a manter a capacidade produtiva, agora também ajustada a um prévio diagnóstico sobre o que podemos fazer para atenuar a nossa dependência externa.
Se é verdade que temos feito um trabalho excelente ao nível da formação profissional (como vi esta semana no lançamento do World of Wine, em Gaia), importa refletir sobre a necessidade de uma estratégia de apoio à diversificação, assente na análise da nossa balança comercial e dos elementos de endogenização da produção. Isso é determinante para a Região Norte. Outrora chamaram-lhe substituição de importações, hoje chamo-lhe desenvolvimento endógeno e sustentável.
*Presidente da CM Gaia / Área Metropolitana do Porto