Uma recente notícia anunciava que um dos antidepressivos mais usados estava esgotado. Podia ser por falhas na produção, mas não. Afinal, estamos mais ansiosos, mais inquietos, mais angustiados. A culpa é também do vírus covid, mas sobretudo de um vírus mais profundo, desta insatisfação constante que nos invade, agora aproveitada por velhas personalidades com novas roupagens.
Falta-nos mundo; falta-nos olhar com mais atenção ao que se passa lá fora para valorizarmos o que temos cá dentro. Falta-nos orgulho em nós próprios como país, nas nossas virtudes e conquistas. É evidente que a situação que vivemos é difícil. Mas é também óbvio que temos razões para lutar com confiança, unidos como nunca. Temos uma região extraordinária e um país fantástico. Temos recursos próprios e externos que importa usar com rigor. Lutar significa dar as mãos e desenhar o futuro com segurança, em vez de pintar tudo de preto para dar origem aos manipuladores.
Reagimos com muito mérito aos problemas sanitários; temos políticas fortes de apoio às empresas e ao emprego; definimos rapidamente respostas sociais que, necessitando de reforço e diversificação, são importantes; tivemos um teste na saúde e na educação, com resultados dignos; o poder local mostrou a sua importância social; a economia social foi decisiva; assistimos às instituições do país empenhadas e disponíveis, com ação séria e inovadora.
Temos um país seguro, pessoas excelentes, um ambiente social tranquilo. Mas não estamos imunes às tendências globais. O país tem vários desafios; a região tem muitas fragilidades. Mas temos razões de orgulho em nós próprios, no país que construímos. A solução para os problemas não passa por cedências ao fala-baratismo oportunista e com projetos perigosos, passa por resolver os problemas com a participação de todos.
No Brasil, as experiências extremistas de quem se deixou iludir pelo discurso fácil do populista Bolsonaro estão a criar uma catástrofe social e económica. Nos EUA, o experimentalismo eleitoral cativado pelo discurso fácil do “diz-me o que queres ouvir” está a gerar um desastre nas políticas nacionais e nos equilíbrios mundiais. Entre outros casos.
É claro que estamos mais perto da Dinamarca do que de Marrocos em termos desenvolvimentistas. Mas alguns preferem colocar-nos ao nível da Etiópia para poderem vender o seu riscado.
Os movimentos extremistas aproveitam cinicamente a genuína angústia das pessoas, desde logo dos jovens, para lhes venderem fórmulas milagrosas, para lhes oferecerem um discurso fácil, aparentemente moralista e sério, mas verdadeiramente demagógico e extremista. Ora, como sabemos que Hitler foi eleito, importa estar atento aos populismos à escala europeia e mundial.
Os discursos do ódio criam um clima de ódio e de intolerância, agora com várias ferramentas tecnológicas, onde vegetam os demagogos. Olhando lá para fora, conhecendo o que lá se passa e olhando para o nosso país, só posso declara-me a este Portugal que merece ser mais valorizado por todos nós: Amo-te, Portugal!
*Presidente da CM Gaia/ Área Metropolitana do Porto