Mantenho a esperança: vamos mesmo sair disto. Mas vamos sair disto melhor do que esperamos, porque fizemos o trabalho preparatório, o que é decisivo.
Temos de gerir o difícil presente, é certo, mas temos de encontrar energias para superarmos as adversidades do presente e ainda mais para prepararmos com inteligência o nosso futuro próximo.
O Plano de Recuperação e Resiliência é muito importante. Em termos de obras estruturantes, permito-me lembrar a segunda linha de metro de Gaia, com ligação ao Campo Alegre, assim como me fascina a rubrica que inclui os meios decisivos para a conclusão do Hospital de Gaia, entre outros.
Para todo o país, e particularmente para a nossa metrópole, são fundamentais as verbas definidas para a resposta às dificuldades das classes médias, em concreto nos domínios do emprego e da habitação. As temáticas da formação e da empregabilidade são fundamentais: vão servir para agilizar uma resposta às atividades económicas e à (re)qualificação das pessoas na adaptação ao mercado de trabalho e no combate ao desemprego, ao mesmo tempo que se apoia a economia mais afetada pela pandemia.
No entanto, a temática da habitação é central. As duas áreas metropolitanas trabalharam conjuntamente com o Governo no desenho de um pacote financeiro de apoio à habitação, mais concretamente, de apoio à habitação para as classes médias, com condições de excelência e com rendas acessíveis. É um eixo da “bazuca” que importa valorizar, na perspetiva da compensação do mercado e das respostas às famílias.
A habitação será um grande desafio municipal. Já o é, aliás. Precisamos de contrariar a enorme especulação que torna inacessíveis os valores das rendas pedidas pelos senhorios e que não encontram alternativas em bancos que passaram do oito para o oitenta. Importa alargar a oferta de habitação digna, a preços acessíveis e numa lógica de reforço da habitação pública, sob gestão municipal, que contraria a especulação imobiliária.
A habitação com rendas acessíveis será o grande desafio dos próximos tempos, a par dos transportes e da empregabilidade. Um modelo de habitação digna, com rendas acessíveis para os jovens e para as classes médias, ao mesmo tempo que se assegura uma resposta pública às atuais dinâmicas predatórias do mercado.
Os municípios são chamados ao trabalho neste domínio. Precisam, é certo, da estabilidade financeira municipal que lhes permita alinhar nesta prioridade, necessariamente carente de um significativo apoio financeiro das autarquias. Aqui se notará a diferença entre os municípios endividados e aqueles que têm as contas no verde… Necessitam do arrojo e da criatividade de um novo tempo das autarquias locais, um novo tempo que se discute menos o exibicionismo pessoalista e se discute mais o investimento inteligente e sustentável, tendo as pessoas como primeira prioridade.
Presidente da CM Gaia / Área Metropolitana do Porto