Portugal viveu, e vive, este ano, uma das suas maiores tragédias de sempre. Os desastres florestais mais mortíferos da história do país, duas vezes em quatro meses. Os incêndios, que ceifaram a vida a mais de sessenta pessoas em Pedrógão Grande, em junho, e mais de três dezenas em diferentes concelhos do Norte e do Centro, no passado fim de semana, deixam marcas inextinguíveis no território e, mais importante ainda, em centenas de pessoas.
Fala-se, por estes dias, do apuramento de responsabilidades – que tem de ser feito rapidamente –, da imprescindível e urgentíssima alteração de modelos de ordenamento da floresta, de fiscalização e de funcionamento da proteção civil, mas fala-se pouco, incrivelmente pouco, das pessoas.
Pessoas que perderam familiares ou amigos; pessoas que ficaram sem casas e terrenos e, assim, sem o fruto do trabalho de toda uma vida; pessoas que viram os seus postos de trabalho arder, assim como toda a paisagem que os rodeia; pessoas que deixaram de acreditar na palavra “esperança”. Não podemos esquecer os momentos terríveis que viveram, as imagens que testemunharam e ficarão gravadas nas suas memórias para sempre, o pânico que sentiram. Há centenas de pessoas a precisar de apoio psicológico, de uma orientação para que retomem as suas vidas. E voltem a encontrar sentido nelas. E o Estado não pode falhar nesta sua responsabilidade.
Os nossos vizinhos galegos, que viveram um drama semelhante nos últimos dias, chamaram-lhe “terrorismo incendiário”. E perante o terrorismo, temos obrigação de nos concentrarmos na prevenção, na moldura penal a aplicar aos seus responsáveis, mas também no imprescindível e decisivo apoio às suas vítimas. No difícil trabalho de assegurar que elas nunca percam esperança no amanhã.
Eduardo Vítor Rodrigues
Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia