O aniversário de uma pessoa é importante, mostra a vida no seu esplendor e deixa sempre a esperança de um novo futuro. É sempre assim a cada ano, mais ainda quando os anos avançam e acreditamos mais na vida e nos seus desígnios. É um pouco contraditório, diga-se. Se é verdade que a morte é inevitável, celebrar o aniversário é um preito de homenagem à vida, mas um encurtamento do tempo face à morte.
Coisa distinta é o ciclo das instituições. A cada ano que passa estão mais perto do futuro, de uma certa eternidade. Sabe-se que os egípcios antigos julgaram o mesmo, procurando a eternidade dos corpos; os romanos igualmente, achando que a civilização tinha tido o seu apogeu, e os gregos não fizeram por menos. E sempre assim foi. E sempre assim será. Não é etnocentrismo, é mesmo a crença do eterno retorno de que falava Eliade.
O Jornal de Notícias aproxima-se desse clímax. Um aniversário que evoca um trajeto passado, com marcas decisivas. Um aniversário que define os caminhos do futuro, com a ousadia de quem acredita poder ir muito mais longe.
Os tempos são perigosos. A Imprensa vive do mercado, tentando não ser mercantilista. O Estado acredita na informação e no serviço público, mas ainda admite que o mercado trata do assunto. Era bom que as sociedades europeias percebessem que o serviço público exige recursos públicos, que a informação não é apenas um serviço, mas um pilar das democracias.
Vem isto a propósito do Jornal de Notícias e do seu aniversário. Fico feliz por haver uma instituição na região (uma das poucas…) que se supera e que nos afirma além-fronteiras. Mas fico sobretudo esperançoso que se afirme este momento como a celebração da vida, do serviço público e da responsabilidade social que todos temos. A informação custa dinheiro, a isenção não é um critério abstrato. A Imprensa livre, para o ser, precisa dos recursos de todos, para poder também chegar a todos. Informação seletiva ou domesticada é um perigo para as democracias. Mas isso impõe uma estratégia de afirmação do bem público, do bem social, do músculo democrático que a informação significa.
Temos novos e grandes desafios. Precisamos de reforçar o mercado, o emprego, as infraestruturas públicas e os desideratos privados. Chamam a isto a bazuca. Para tudo isso tem de haver recursos públicos. Mas o tempo atual não pode abdicar da liberdade de uma Imprensa que não vive de ar e vento, vive de recursos. Todos eles são óbvios, mas exigem coragem. É óbvio que não podemos abdicar de refletir sobre as formas atuais de utilização da informação produzida sem cuidar de nos questionarmos sobre os seus usos. Os direitos de autor não se aplicam apenas às pautas musicais, mas também às peças informativas. E a globalização não é o pretexto para universalizar a informação gratuita para as plataformas e caras para as suas produções. Bater o pé à globalização iníqua é também isto.
Ler e apoiar a leitura. Como importa, se queremos uma sociedade informada, sem dogmas, com um conhecimento profundo das realidades, com espírito crítico e isenção, afirmando o serviço público prestado por todos, incluindo os privados. Parabéns ao JN, lutem pela democracia e façam ver ao Estado que a informação é um pilar da educação e, portanto, um serviço público.
Presidente da C. M. Gaia e da Área Metropolitana do Porto